Num dos últimos artigos que escrevi para o blog, abordei a influência dos administradores portugueses no processo de transformação digital nas empresas. Esta matéria incentivou-me, agora, a falar um pouco sobre o setor financeiro, setor cujo modus operandi está a sofrer alterações profundas.
Pois é, com o maior fluxo de dados digitais, as instituições ligadas ao setor financeiro viram-se obrigadas a serem mais competitivas, mais orientadas para as necessidades dos seus consumidores e dos próprios parceiros comerciais. As vantagens da transformação digital no setor financeiro são imensas e impactam não só a relação com o cliente final como a própria instituição.
Falo de processos internos, plataformas usadas e gestão de recursos humanos. Sim, a tecnologia é uma mais-valia para a gestão organizacional de qualquer empresa, muito mais quando falamos de banca e seguros em que os dados dos clientes são um ativo preciosíssimo.
Setor da banca e seguros em destaque
Ora, é notório que houve uma mudança profunda nos hábitos de consumo e na interação com o setor financeiro, o que obrigou as empresas e os seus decisores a deixarem de olhar para o seu negócio de uma forma tanto ou quanto transacional e a intensificar a relação com os seus clientes.
Num mundo cada vez mais conectado, personalizado e ágil, os setores da banca e seguros demonstraram, que, de facto, existe a intenção clara de fazer deste serviço algo útil, ao mesmo tempo tecnológico e ajustado às necessidades dos seus clientes.
Como é visível no estudo “Transformação Digital no Negócio”, estes dois setores foram os mais assertivos na hora de esclarecer que já obtinham resultados quando perguntado de que forma o digital contribui para o seu negócio?, tendo também uma elevada utilização de tecnologias como Big Data e Social Business.
De facto, os avanços nestes setores, cada vez mais digitais, têm promovido uma oportunidade única para melhorarem a sua eficácia e qualidade, pelo que, muito tem contribuído a modernização de processos, sistemas e consciencialização digital.
Neste sentido, é sem grande surpresa que uma larga fatia do orçamento destes setores está direcionada para a integração de novas tecnologias.
A integração de novas tecnologias no setor financeiro
1. Inteligência Artificial, um ponto assente
Quer nos setores da banca ou dos seguros, o grande volume de documentos que contenham dados para análise é elevado, pelo que operações como abertura de contas, empréstimos, seguros são prova indiscutível desse facto. Ao mesmo tempo, a variável “tempo” impacta todo este processo, tornando-o cansativo quer para os próprios gestores de conta, quer para os clientes.
Para prevenir situações como esta, algumas instituições já utilizam a tecnologia OCR (Optical Character Recognition) para identificar os documentos de forma automática e retirar as informações necessárias para análise. A tecnologia permite que a ação-reação seja mais instantânea.
2. IoT, o caminho para a customização
O tema IoT (Internet das Coisas) no setor dos seguros já começa a ganhar expressão.
O exemplo do seguro automóvel é paradigmático. Sabia que, hoje em dia, um seguro já pode ser atribuído mediante uma avaliação dos hábitos do condutor em questão? É verdade, através da recolha automática e integração dos dados em sistemas, são definidas condições ajustadas ao risco de acidentes, que levará à atribuição do seguro automóvel mais indicado para cada tipo de condutor.
Esta integração também pode contribuir para a prevenção do risco das habitações com detetores inteligentes de fugas de gás ou água.
3. Machine Learning, para rentabilizar recursos
Temos o caso concreto da multinacional norte-americana JPMorgan Chase que desenvolveu a plataforma Contracts Intelligence (COiN) que, suportada pela tecnologia de machine learning, tem a capacidade de ler e processar centenas de contratos. Para além de rentabilizar o tempo dos colaboradores, a plataforma desenvolve propostas através da sua capacidade de análise e cruzamento de informações.
4. Assistentes virtuais inteligentes ao serviço do cliente
O Bank of America Corporation revelou, no seu 10º aniversário, o investimento no chatbot Erica que utiliza a análise preditiva e mensagens cognitivas como meio para comunicar com os clientes do banco.
Utilizada como componente integrante do mobile banking, esta assistente virtual está disponível 24 horas por dia, 7 dias por semana e, para além de realizar transações diárias, tem a capacidade de antecipar as necessidades financeiras dos clientes ajudando-os a atingir as suas metas financeiras, oferecendo recomendações customizadas.
5. O conceito multiplataforma
Uma abordagem multiplataforma disponibiliza qualidade e uma experiência mais familiar ao cliente. Esta solução engloba alguns dos pontos abordados anteriormente e também é um complemento essencial ao banco mais tradicional, permitindo alcançar novos segmentos de clientes, mais jovens.
O Internet Banking é a forma mais popular dos serviços financeiros e mais funcional, existindo, para isso, uma forma mais rápida e instantânea de aceder à conta.
Falo das APP’s que permitem ao utilizador ter inúmeras funcionalidades no que à gestão de conta diz respeito. Fazer transações, verificar o saldo, monitorar depósitos a prazo e até mesmo o bloqueio de cartões, quer através de smartphone ou desktop.
Fintech: alavanca para a transformação
Ao longo dos anos, a tecnologia tem vindo a demonstrar um crédito altamente justificado no setor financeiro, aumentando a credibilidade e o espaço no mercado das fintech. Estas empresas, nascidas em berço digital, promovem soluções na área de serviços financeiros e vêm ajudar os bancos que atuam de forma mais tradicional a evoluírem continuamente agregando valor ao produto ou serviço final. Prova disso é a fintech alemã que já vale mais do que o Deutsche Bank.
Aliás, é interessante perceber quais são as 5 maiores fintechs de 2018, e o respetivo valor de mercado, percebendo que já não falamos de empresas com pouca expressão no mercado internacional:
- Greensky (481M€)
- Kabbage (430M€)
- Stripe (387M€)
- Affirm (387M€)
- TransferWise (341M€)
Pois é, podemos ver que a sua dimensão, recentemente categorizadas por startup’s, já não são assim tão irrelevantes e chamam a atenção por dois motivos: por um lado, começam a deixar rasto na participação do mercado financeiro, nomeadamente bancário, pois algumas crescem com a intenção latente de fazer frente a grandes instituições; por outro, a oportunidade de sinergia com os bancos trará uma nova cara ao setor que vê a agregação de novos serviços e soluções resultar numa proposta de valor mais dinâmica e interativa para os clientes.
5 verdades da transformação digital no setor financeiro
As seguintes afirmações são fundamentadas pelo estudo “Transformação digital no negócio”, realizado pela Impacting Digital, e que dá a conhecer o nível de transformação digital das empresas portuguesas de variados setores de atividade. Estas são as principais conclusões relativas ao setor financeiro, nomeadamente, banca e seguros.
- Os seus líderes respiram compromisso digital. São eles os verdadeiros impulsionadores da mudança, da inovação e da evolução dos seus negócios.
- Existem poucas competências internas para levar a cabo uma estratégia de transformação digital. A elevada percentagem de contratação de serviços outsourcing é o principal obstáculo para a transformação digital no setor financeiro.
- As redes sociais são um meio de comunicação. Nos aspetos tecnológicos, os decisores deste setor não se inibem de apostar nas redes sociais, utilizando-as como parte integrante das estratégias digitais.
- Cryptocurrencies, um tabu. A utilização de moedas virtuais é praticamente nula na maior parte das empresas em Portugal, incluindo as do setor financeiro.
- Os aspetos culturais estão à frente dos tecnológicos. Isto é, existe a consciência de que a transformação digital é importante mas não existem os recursos necessários para a pôr em prática.
A urgência em inovar
Aos negócios inseridos no setor financeiro, mais precisamente no da banca e seguros, são-lhes exigidos elevados padrões de qualidade. Por sua vez, elevados padrões de qualidade exigem rigor, competência e confiança. E quanto mais os negócios puderem contar com o digital e com a tecnologia para garantir que todos os estes (e outros) critérios são cumpridos, mais bem sucedidos serão aos olhos dos seus clientes. Nunca esquecendo a imprescindibilidade do fator humano, que deve ser igualmente complementado com mais dois, o digital e o estratégico.
Este não é o segredo, mas é um bom começo para quem pretende iniciar o processo de transformação digital no setor financeiro.